[pedantes e inseguros]

Zeca Camargo é, indiscutivelmente, um cara que tem muita inteligência e muita sorte. Essa combinação nada comum de fatores deu à ele a possibilidade de não só hoje ser apresentador de um dos programas mais importantes da televisão [nem sei a quantas anda o Fantástico, faz tanto tempo que não vejo tv], como fez com que ele pudesse viajar o mundo inteiro para fazer o trabalho dele.

Zeca Camargo, apesar disso, é um grande poço de egocentrismo. Ler os seus textos é embarcar em uma ode à tudo que ele sabe, que ele ouve, que ele lê. É ficar com uma inveja danada de quem ele já entrevistou mas, ao mesmo tempo, ficar abusado do quanto ele acha que é importante por ter feito isso. E, pior, ele ainda tenta pagar de humilde, mas sempre acaba voltando a se mostrar como o tal.

Eu já pensava nisso desde que o seu livro de entrevistas com astros da música caiu em minhas mãos. Mas, só hoje, depois de ler isso aqui:

“Em tempo, só para esclarecer a discussão entre o IgorDG e o Josué, que mandaram seus comentários sobre a possibilidade de eu abraçar os livros no feriadão: a gente sempre acha tempo para ler alguma coisa… Neste carnaval, por exemplo, em função de uma aula que vou dar em breve, li uma ótima trilogia chamada “The liquid continent”, do canadense Nicholas Woodsworth. E ainda consegui ver “Milk” (como já mencionei) e “Quem ser um milionário?” – que, aliás, é nosso assunto de hoje”

em seu blog no G1 é que me deu o estalo para escrever não sobre ele, especificamente, mas a dúvida que me dá ver o quanto há pessoas inteligentes nada humildes. Eu mesmo conheço várias. Aquele pessoal que, por um pouquinho a mais de conhecimento que eles acreditam ter findam por estipular o que pode ou não garantir à eles mais um tanto de saber.

São aquelas pessoas frustadas por não viverem em uma Semana de Arte Moderna constante, em que o não entendimento da maioria é combustível para que eles possam tecer loas ao que eles também não compreenderam. É fácil identificar pessoas assim. Tempo desse eu mesmo vi um documentário de umas moças da UESPI sobre Intervenções Urbanas e essa necessidade pulsante de demonstrar erudição saltava na tela. Mas, tentar mostrar que se é inteligente só faz com que você demonstre que quer se vangloriar.

Por exemplo, eram comuns os discursos inflamados sobre o fato de que as Intervenções Urbanas eram a arte que ia contra o “sistema”. Me dava urticária ainda ver pessoas que, nos dias de hoje, usam a palavra sistema como se ela representasse um aglomerado de homens com cara de sangue-sugas em ternos Armani, prontos para garantir a vitória do capitalismo em todas as instâncias. Mas elas precisavam mostrar que entendiam algo daquela arte.

Precisavam dar uma opinião, dizer que eram poetas, que liam sobre aquilo tudo e, coitadas, acabavam engolidas nas palavras de quem, realmente, entendia do que estava falando, não porque demostravam essa buscada erudição, mas porque, simplesmente, se interessavam sobre o assunto e tinham como falar dele. O Zeca é um exemplo mais top.

Porque é visível que ele entende sobre o que está falando. A não ser que ele escreva bem melhor do que imagino, não dá para ter a segurança que ele tem com pedantismo. Mas me incomoda ver que, ao mesmo tempo, ele parece inseguro com as opiniões alheias, o que poderia justificar tamanha necessidade de dizer “Sim, eu posso” [nenhuma relação à obamania aqui, ok?]. Daí surgem esses dois grupos, o dos pendantes e os dos inseguros, que se encontram no receio de que achem que eles não entendem.

Como jornalista, acabo sendo cobrado diariamente para saber. Saber quem foi nomeado ministro, quem veio acabar com a farra corrupta, quem transou com a Jeniffer Aniston ou quem venceu o Oscar. Aliás, saber é pouco. É preciso dizer o que achei da nomeação, se concordo com as ações anti-corrupção, se o sexo da Aniston é notícia e se o Oscar foi justo. E, gente, isso é um saco.

Pode vir aqui outro jornalista argumentar que isso é algo da profissão, que temos de ficar sempre atentos para que tenhamos essa visão global, mas, por favor… Qual a vantagem em ser pedante ou inseguro? Não quero aqui me justificar de não saber fatos que, realmente, são meio que obrigatórios de se saber. E, admito, é terrível ouvir aqueles “Como assim, você não sabia?”.

Mas é que a gente vive num paradoxo tão grande ultimamente [informação demais que resulta em pouco conhecimento], que fico me perguntando se não seria mais sensato dar um direcionamento à isso tudo. Por exemplo, o próprio Zeca é craque em cultura pop. [eu não sei se o elogio ou se o detono, percebam].

O que me irrita é saber a quantidade de gente que acha que isso é sim importante e que jornalistas tem que dar opinião sobre tudo. Vai ver é culpa do sistema. Ou eu quem me enrolei todo nesse texto…

7 Respostas para “[pedantes e inseguros]

  1. rs…
    se te apetece: eu não entendi…
    kkkkkkkk
    “elas”, quem? a gente? ou a pessoa de quem tu me falou depois de ver o filme? rs

    Xêru!

  2. É chato mesmo, hein? Mas [eu acho] depois que vc se ‘especializa’ em uma área as pessoas enchem menos o saco, tipo.. não vão perguntar sobre o Oscar pra um jornalista político.
    Calma que passa.
    =*

  3. Por isso eu tenho sempre a Vanessa do lado pra me dizer o que se passa em política. Assim, eu não preciso estar sempre lendo os jornais sobre política local porque ela já sabe de tudo mesmo. hehehe É só dar uma perguntadinha na mesa mais da frente! =P

  4. na vida pessoal temos a chamada “ditadura da ereção” (e até sei que alguns amigos meus que escrevem nesse blog já passaram por isso, hahaha). na vida profissional, temos a “ditadura do saber”. é aquele lance de saber tudo antes de todo mundo e já com uma opinião formada sobre isso, pensando além…no futuro…na geração de ooooutra informação para que ooooutro alguém corra atrás de saber.

    e aí instala-se o círculo vicioso.

  5. Zeca Camargo nem sempre entende do que fala.

    Os comentários que ele fez que fez sobre o filme O Cavaleiro das Trevas foram ridículos, baseados em nada mais do que o gosto pessoal sem cunho crítico.”Gosto” “Prefiro” etc…

    A programação da TV Globo é, por opção da emissora, superficial e insossa, pasteurizada para a massa. Zeca Camargo segue a linha.

    Por essas e outras também deixei de assistir à Televisão.

  6. Tem sempre esses pedantes insuportáveis, como o Zeca. E os inteligentes humildes é que pagam, porque levam a mesma fama e por vezes ainda parecem ter de se desculpar por serem inteligentes; tendo inclusive, muitas vezes, que se fazer de desentendidos sobre algo que entendem bem pra não passar por pedantes para as demais pessoas.
    E tem essa obrigação que vc citou de ter que dar opinião em tudo, e muita informação e pouco conhecimento. Parece que quanto mais a gente se comunica aí é que a gente se estrumbica.

  7. Rafael, se eu fosse o “Zeca” do post te diria: – seja menos inseguro rapaz, você não tem nada a perder no jornalismo pedante! Veja meu exemplo…

    mas como sou apenas “um” amigo à fresta do blogue, te digo: – disfarcei meu desprezo sim (pelo mundanismo dos papéis sociais, pelas festas comedidas, pelas pretensas erudições, pelas encenadas amizades de outrem, pela mídia que não serve) e vivo feliz na penumbra; mas você, como e-scritor, o que faz/fez em troca de si, por estes tempos, para evitar pensar nisto que te aflige?

    A resposta que você se der é o comentário verdadeiro que você precisa ouvir!

    Pense nisso”

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